Um ano, sete histórias: reviva o maior vexame do esporte brasileiro - Gazeta Esportiva
Um ano, sete histórias: reviva o maior vexame do esporte brasileiro

Um ano, sete histórias: reviva o maior vexame do esporte brasileiro

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior

08/07/2015 às 07:32

São Paulo, SP


A maior derrota do esporte nacional completa um ano nesta quarta-feira. E, para reviver os cabalísticos sete gols que a Alemanha marcou na Seleção Brasileira nas semifinais da última Copa do Mundo, a Gazeta Esportiva reuniu sete histórias relacionadas à tragédia do Mineirão.


Reveja o 7 a 1 em fotos


Nesta reportagem especial, o premiado publicitário PJ Pereira irá desmascarar a dor sentida por quem ele próprio incentivou a se fantasiar de Neymar no estádio de Belo Horizonte – onde o atacante do Barcelona não esteve graças à joelhada do colombiano Juan Camilo Zúñiga – e vivenciou um pesadelo eterno.


1 x 0: Criador das máscaras de Neymar tem inspiração de livro com pesadelo eterno

O publicitário PJ Pereira foi o responsável por fazer a maior parte do público se fantasiar de Neymar no 7 a 1
O publicitário PJ Pereira foi o responsável por fazer a maior parte do público se fantasiar de Neymar no 7 a 1 - Credito: Acervo Pessoal


Muitos dos que preencheram aquelas arquibancadas voltaram a sua ira contra o técnico Luiz Felipe Scolari. Injustamente, segundo o sósia de Felipão que ficou famoso ao ser confundido com o próprio treinador durante a Copa do Mundo. Hoje, o ator Wladimir Palomo se orgulha por ter previsto que a defesa brasileira era bastante suscetível a falhas no Mundial.


2 x 0: Sósia relembra acerto ao confundir jornalista na Copa e defende Felipão

Wladimir Palomo é o sósia de Felipão que fez um alerta nacional em relação aos problemas da defesa da Seleção
Wladimir Palomo é o sósia de Felipão que fez um alerta nacional em relação aos problemas da defesa da Seleção - Credito: Fernando Dantas/Gazeta Press


Mas não foram todos os brasileiros que se angustiaram com os problemas da Seleção. Em Santa Cruz Cabrália, pequeno município onde a Alemanha se concentrou durante a Copa do Mundo, sobraram saudades dos tetracampeões mundiais. Um torcedor que fez o goleiro Manuel Neuer se declarar fã do Esporte Clube Bahia passou até a sonhar em visitar o país europeu.


3 x 0: Torcedor que deu camisa do Bahia a Neuer sonha em conhecer a Alemanha[gad-video:[idVideo=2146,width=620px,height=407px]]


Em Minas Gerais, muitos alemães têm feito o caminho inverso. De acordo com Severiano Braga, gestor das obras de modernização do Mineirão e atualmente gerente de operações do estádio, o local onde a Seleção Brasileira foi humilhada se tornou ponto de peregrinação dos compatriotas de Bastian Schweinsteiger e seus companheiros.


4 x 0: Engenheiro do Mineirão vê 7 a 1 como propaganda e menor do que 1950

Engenheiro responsável por modernizar o estádio, Severiano Braga (de óculos) tentou negar o fantasma do Mineirazo
Engenheiro responsável por modernizar o estádio, Severiano Braga (de óculos) tentou negar o fantasma do Mineirazo - Credito: Divulgação


Alguns funcionários da Minas Arena, no entanto, ainda remoem aquela goleada. Ao contrário do engenheiro do Mineirão, a locutora Pollyana Andrade se frustrou por ter sido excluída pela Fifa do Mundial, apesar de trabalhar no estádio há 16 anos. Mas se conformou por se livrar do fardo de anunciar o 7 a 1 nos alto-falantes.


5 x 0: Fora da Copa, locutora do Mineirão se consola por não ser voz do 7 a 1

A Fifa preferiu manter o padrão masculino na Copa do Mundo e evitou que Pollyana fosse a voz do vexame
A Fifa preferiu manter o padrão masculino na Copa do Mundo e evitou que Pollyana fosse a voz do vexame - Credito: Acervo Pessoal


Quem não perdeu a voz, mesmo com o vexame histórico, foi o ex-coordenador Carlos Alberto Parreira. No dia seguinte à derrota trágica, o braço direito de Felipão tentou amenizar a dor do povo brasileiro ao ler uma suposta carta de uma senhora, Dona Lúcia, que apoiava o trabalho realizado pela comissão técnica da Seleção. Mal sabia ele que uma Dona Lucinha já era famosa em Belo Horizonte – com o seu talento para a culinária reconhecido até pelo tenor Plácido Domingo.


6 x 0: Plácido Domingo se encantou com “Dona Lúcia” um dia antes de Parreira

Assim como Parreira, o tenor Plácido Domingo se animou ao entrar em contato com uma
Assim como Parreira, o tenor Plácido Domingo se animou ao entrar em contato com uma "Dona Lúcia" em Belo Horizonte - Credito: Acervo Pessoal


Ainda que a cozinha mineira tenha conquistado admiradores na Copa, não foi suficiente para acabar com a indigestão do 7 a 1. A eliminação diante dos alemães se tornou tão simbólica que fez até o famoso ator pornográfico Kid Bengala perder o tesão. Como consolo, ele gosta de lembrar que já morou na Alemanha, onde gravou filmes e arrebatou corações.


7 x 0: Sem tesão após goleada, Kid Bengala prefere lembrar filmes na Alemanha

Kid na alemanha
Kid na alemanha - Credito: Divulgação


Sem um motivo como o de Kid Bengala para se conformar, todos aqueles que participaram de alguma forma daquela partida com a Alemanha tiveram as suas carreiras marcadas. José Maria Marin, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), agora está preso. O contestado Felipão foi para longe, para a China, onde passou a comandar o Guangzhou Evergrande. Seu capitão Thiago Silva ganhou a fama de chorão. E o estático Fred invariavelmente ouve provocações nos estádios em que defende o Fluminense.


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7 x 1: Para que o gol de honra brasileiro represente uma mudança nos rumos do futebol nacional, no entanto, é preciso que a vergonha do Mineirão seja eternamente lembrada, não apenas com sete histórias. Veja abaixo como a Gazeta Esportiva noticiou o histórico jogo de 8 de julho de 2014, aquele que deveria servir de lição para dias melhores da Seleção Brasileira.














A máscara caiu. Diante de milhares de torcedores fantasiados de Neymar, a Seleção Brasileira não transformou em realidade a ilusão de que poderia ser bem-sucedida sem o seu principal jogador. Foi humilhada pela Alemanha com uma histórica e eterna derrota por 7 a 1 nesta terça-feira, no mesmo Mineirão onde já havia sofrido para superar o Chile nos pênaltis, e está fora da disputa pelo título da sua Copa do Mundo. Os gols foram marcados por Muller, Klose (o maior artilheiro dos Mundiais, agora à frente de Ronaldo), Kroos (2), Khedira e Schurrle (2). Oscar fez o de honra.


Se queria apagar a derrota para o Uruguai na final da primeira Copa do Mundo realizada no Brasil, há 64 anos, a Seleção conseguiu de forma vexatória. Perdia por 4 a 0 em 25 minutos de jogo. Em um Mineirão que virou Mineirazo, viu os seus torcedores reagirem com um choro que a psicóloga Regina Brandão e nem o melhor de seus colegas seriam capazes de conter. A revolta nas arquibancadas também acabou extravasada com irônicos gritos de “olé”, vaias (principalmente para o centroavante Fred), insultos e brigas.


A traumática queda diante da Alemanha foi o desfecho de um sonho que o Brasil alimentou muito graças a Neymar, alvo de uma joelhada de Zúñiga na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia, nas quartas de final, quando fez a sua exibição mais apagada no Mundial. Antes, o atacante havia sido importante nas vitórias por 3 a 1 contra a Croácia e por 4 a 1 em cima de Camarões, no empate sem gols com o México e na disputa de pênaltis com os chilenos.


Com a derrota na decisão da Copa do Mundo de 2002 muito bem vingada, a Alemanha agora se prepara para jogar a final do Maracanã às 16 horas (de Brasília) de domingo, contra o vencedor do confronto entre Holanda e Argentina. Ao Brasil, restará a melancólica disputa de terceiro lugar com o perdedor da outra semifinal, às 17 horas (de Brasília) de sábado, no Mané Garrincha. Mais uma vez, sem Neymar.

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aaaaaa - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
O jogo – A Alemanha já estava à frente da Seleção Brasileira antes mesmo de a bola começar a rolar. Os comandados de Joachim Low entraram em campo com passadas largas, enquanto os de Felipão caminharam timidamente, com as mãos sobre os ombros uns dos outros – faltavam, entretanto, aquelas costas que suportaram o peso de toda a campanha até as semifinais e acabaram fora da Copa do Mundo graças à joelhada do colombiano Zúñiga.


Neymar estava representado por um uniforme com o número 10 e o seu nome gravados, levado ao gramado pelo capitão David Luiz – que herdou a braçadeira do suspenso Thiago Silva. Na hora da execução do Hino Nacional, aquela camisa tremulou junto com as vozes da torcida brasileira. Entre elas, estava a de Bernard, o escolhido de Felipão para reanimar a Seleção com a sua “alegria nas pernas”, como gosta de dizer o treinador.


A animação durou poucos minutos, com a pressão inicial imposta pela Seleção Brasileira. O lateral esquerdo Marcelo foi o primeiro a incomodar com um chute de fora da área. Oscar se incumbiu de cobrar os escanteios antes batidos por Neymar. E Hulk continuou a mostrar apenas vontade, assim como Bernard, enquanto Fred se manteve nulo em campo.


Apesar de ter seguido com os seus problemas habituais e não mais com Neymar, o Brasil até pareceu assustar um pouco a Alemanha. Ozil escorregou e levou o público local ao delírio. Seu time respeitava o ímpeto brasileiro e demorou um pouco para sair ao ataque. Quando o fez, encontrou uma defesa adversária bastante desorganizada com a entrada de Dante na vaga de Thiago Silva e acabou com o jogo.


O primeiro gol alemão saiu aos dez minutos. Em uma cobrança de escanteio de Kroos, Muller apareceu inacreditavelmente livre de marcação dentro da área. Só teve o trabalho de escorar a bola, com uma finalização cruzada, para inaugurar o placar.


O gol foi a senha para a Seleção Brasileira se desesperar de vez. Sem nenhuma criatividade, o time apelou aos lançamentos longos de David Luiz, como já havia ocorrido em outras partidas da Copa do Mundo. Também implorava por pênaltis, como aos 17 minutos, quando Marcelo caiu na área ao perder a bola para Lahm e provocou uma acalorada discussão entre Hulk e Boateng. A torcida pareceu prever o inacreditável e passou a berrar logo cedo: “Eu acredito!”.

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dsafsfsdg - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Jogando de rubro-negro como o Flamengo, a Alemanha tinha muito mais confiança. E não era para menos. Afinal, contava com total liberdade para trocar passes à brasileira. Foi assim que transformou a vitória parcial em goleada em menos de cinco minutos. A começar por uma bela jogada de Kroos, encontrando Muller dentro da área. A bola ficou com Klose, que parou em Júlio César no primeiro chute e mostrou o oportunismo do maior artilheiro da história das Copas para ficar com o rebote e conferir, aos 22.


Àquela altura, alguns torcedores já choravam, como fizeram os jogadores de Felipão contra o Chile. O trauma emocional seria ainda maior. Já aos 23 minutos, Lahm fez um cruzamento rasteiro para a área do Brasil, onde Muller não conseguiu concluir. Kroos, sim. Júlio César ainda tocou na bola, que entrou no canto.


O marcador dilatado fez o Brasil ficar tonto em campo. A ponto de Fernandinho perder perigosamente uma bola para Kroos a dois passos da meia-lua. O alemão tirou proveito e tabelou com Khedira antes de finalizar na saída de Júlio César. O massacre dos times visitantes, cada vez mais em casa, estava configurado. Com apenas 25 minutos de partida.


Se os atletas do Brasil não sabiam como reagir, os torcedores muito menos. Alguns choravam copiosamente, borrando as pinturas verde e amarela em seus rostos. Outros preferiram deixar o Mineirão mais cedo. E os mais revoltados desabafaram com coros de “raça”, insultos para o ar, brigas entre si e ameaças de violência generalizada. A tensão era tamanha que os seguranças da Fifa fizeram um cordão de isolamento onde estava concentrada a maior parte da torcida da Alemanha.


Ficaria pior. Ou melhor, no caso do público alemão posicionado atrás do gol defendido por Neuer. Aos 29 minutos, Khedira avançou sem marcação pelo meio, tocou para Ozil (em posição duvidosa), recebeu de volta e emendou no canto direito de Júlio César para também participar da festa germânica no Mineirão.


A ilusão de conquistar a Copa do Mundo em casa, 64 anos após a tragédia de 1950, acabava ali para o Brasil. Muitos já sabiam, com um conformado canto para se dizerem brasileiros “com muito orgulho, com muito amor”. Jogadores como Hulk ainda se esforçavam, enquanto a Alemanha diminuía o ritmo, mas tropeçavam nas próprias pernas. Felipão até se sentou. Só saiu da sua área técnica de novo no último minuto do primeiro tempo.


Tentando evitar um vexame ainda maior, o técnico recorreu às entradas de Paulinho e Ramires nas vagas de Fernandinho e Hulk. Só adiantou nos primeiros minutos do segundo tempo porque a Alemanha havia se acomodado. Joachim Low, por exemplo, até poupou Hummels e mandou Mertesacker ao gramado naquele instante.

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dfgdgsdgf - Credito: Gazeta Press
Nas investidas brasileiras, a Alemanha provou não ter bons jogadores só no setor ofensivo. O goleiro Neuer trabalhou bem e conteve algumas finalizações de Paulinho e Oscar. Para parar Fred, no entanto, não era preciso fazer muito. O centroavante foi perseguido mais pela torcida amarela do que pela marcação rubro-negra. Passou a ser vaiado a cada toque na bola.


Do outro lado, até o público brasileiro reverenciou o goleador alemão. Aos 12, Klose deu lugar a Schurrle e saiu com aplausos justos ao maior artilheiro das Copas. Seu substituto o homenageou com um gol. O jogador do Chelsea ficou com a bola após uma jogada trabalhada por Lahm e Khedira e bateu rasteiro, perto da marca do pênalti, para ser mais um a superar Júlio César.


Felipão, então, gastou a sua última alteração. Sacou Fred, para alívio da torcida, e fez Willian assistir de perto ao show alemão. Que prosseguiu aos 33 minutos, outra vez com Schurrle. O atleta recebeu um ótimo passe na esquerda, dominou bem e chutou com força, no ângulo, para dilatar o placar histórico em Belo Horizonte.


Aos 44 minutos, a Seleção Brasileira fez o seu gol de honra. Oscar recebeu lançamento longo, fintou Boateng e completou na saída de Neuer. Os torcedores alemães ironizaram, com gritos de “Brasil”, enquanto as máscaras de Neymar – antes motivos para ousadia e alegria da plateia local – caíam sobre o chão do Mineirazo.




*Colaboraram Bruno Ceccon, Juliana Arreguy e Luiz Ricardo Fini

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