Criador das máscaras de Neymar tem inspiração de livro com pesadelo eterno - Gazeta Esportiva
Criador das máscaras de Neymar tem inspiração de livro com pesadelo eterno

Criador das máscaras de Neymar tem inspiração de livro com pesadelo eterno

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior

08/07/2015 às 07:41

São Paulo, SP


Quando retornava do Castelão depois da vitória por 2 a 1 da Seleção Brasileira sobre a Colômbia, dentro de um ônibus, o publicitário PJ Pereira recebeu por telefone a notícia de que Neymar estava fora da Copa do Mundo. A joelhada desferida pelo defensor Juan Camilo Zúñiga atingiu em cheio as costas do atacante e o entusiasmo daquele torcedor com o torneio, pano de fundo para o seu último livro na trilogia “Deuses de dois mundos”.


Do outro lado da linha, a esposa Lo Braz, proprietária de uma agência de design, tentou consolá-lo com uma solução para o Brasil contar de alguma forma com Neymar em Belo Horizonte, onde seria disputada a semifinal com a Alemanha. “Foi ela que sugeriu que alguém tinha que arrumar um jeito de fazer um monte de máscaras para que, quando os alemães entrassem em campo, vissem milhões de Neymares esperando por eles. Eu me empolguei”, contou PJ, em conversa com a Gazeta Esportiva.


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O marido de Lo Braz era o mais indicado a “arrumar um jeito”. Fundador da Pereira & O’Dell e vencedor de um Emmy e quatro Grands Prix no festival de Cannes, o publicitário nascido e criado no Rio de Janeiro e residente em San Francisco, nos Estados Unidos, viabilizou a ideia de sua mulher com mais alguns telefonemas. “Liguei para o Sergio Gordilho, co-presidente da Africa, outra agência do Grupo ABC como a Pereira O’Dell, e ele falou com o pessoal da Tudo, agência de promoção do mesmo grupo. Chegando ao estádio, a máscara estava em todo lugar”, rememorou, orgulhoso.

A estratégia de intimidação criada por PJ Pereira (foto) não escondeu os problemas da Seleção Brasileira
A estratégia de intimidação criada por PJ Pereira (foto) não escondeu os problemas da Seleção Brasileira - Credito: Acervo Pessoal
Mas Neymar não estava. Apesar de o rosto dele encobrir os da maioria dos torcedores presentes no Mineirão naquele histórico 8 de julho, de o restante da equipe usar bonés com a mensagem “Força, Neymar” e até de a sua camisa 10 ser agitada pelo goleiro Júlio César e pelo zagueiro David Luiz durante a fervorosa execução do Hino Nacional Brasileiro, a Seleção de Luiz Felipe Scolari deixou notório que havia se disfarçado de um time competitivo quando contava com o astro do Barcelona.


“Antes de tudo acontecer, não tinha nada de lamentação. A torcida estava numas de ser o 12º jogador mesmo. O jogo começou, e gritávamos para cada passe como se fosse um drible de gênio, para cada roubada de bola como se tivessem marcado um pênalti a nosso favor. Nunca tinha visto aquilo. E olha que sou flamenguista e já presenciei a torcida rubro-negra ser campeã várias vezes. Mas, com aquele grau de envolvimento, nunca houve igual. Nós estávamos no campo”, definiu PJ Pereira.


No gramado, o reforço dos milhares torcedores fantasiados de Neymar foi insuficiente contra os 11 adversários de cara limpa. Flamenguista que estranha o jeito comportado dos norte-americanos na Major League Soccer (MLS), PJ não demorou a perceber que o time rubro-negro da Alemanha faria o Brasil amarelar no Mineirão. “No primeiro gol deles, a resposta foi imediata: vamos para cima. E a gritaria aumentou. Veio o segundo: ficamos em choque. Metade de nós continuou gritando, enquanto outros se olhavam, assustados. Depois do terceiro, a coisa calou, fora um ou outro que se virava para trás para pedir apoio, sem sucesso. Com o quarto gol, os gritos mudaram para xingamentos ao governo. Assim, do nada”, relatou.

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sdfsdf - Credito: Gazeta Press
Com uma imaginação fértil, PJ descreveu o roteiro de um filme de terror ao metaforizar os cinco gols que aconteceram bem diante de si – ele estava posicionado atrás da meta “defendida” por Júlio César no primeiro tempo da partida com os alemães. “A sensação mais estranha foi de que parecia um replay, mas estávamos no estádio. Não era para estar acontecendo. Dava vontade de apertar o botão undo e retroceder. Se há uma situação que mereça a descrição de surreal, foi aquilo. Era como um pesadelo desses em que você acorda, entende que está sonhando, dorme outra vez e o mesmo sonho acontece de novo”, contou, na tentativa de explicar o inexplicável.


O pesadelo eterno estava longe de ser o que PJ Pereira, já com a experiência de ter acompanhado a Seleção Brasileira contra Japão e Gana na Copa do Mundo da Alemanha, havia imaginado para o “Livro da morte” – que se juntou ao “Livro do silêncio” e ao “Livro da traição” para completar a trilogia “Deuses de dois mundos”. Mas acabou bastante apropriado para a obra que retrata a mitologia africana.


“Já tinha planejado que o livro aconteceria durante a Copa do Mundo. Mas, quando o Brasil tomou aquela goleada da Alemanha, tive que mudar umas coisas. O bom é o livro ser meio sombrio. A depressão generalizada e o choque de ter tomado de sete me deram um cenário interessante para umas coisas bem cabeludas que acontecem no primeiro e no último capítulos, que rolam exatamente durante e logo após aquele jogo”, narrou o escritor estreante, que conseguiu cativar o público como um 7 a 1. Conforme a revista Veja noticiou no final de maio: “Entre Green, Doerr e Cass, apenas um sobrenome comum no Brasil se destaca na lista dos dez livros de ficção mais vendidos de Veja desta semana: Pereira”.

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Livro - Credito: Divulgação
Diferentemente de PJ Pereira, muitos brasileiros perderam prestígio com o massacre alemão. O principal deles foi o técnico Luiz Felipe Scolari, campeão mundial em cima da Alemanha em 2002 e criticado por suas escolhas em 2014. Ao assumir o cargo de coordenador da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por exemplo, Gilmar Rinaldi não poupou o comandante anterior de duras críticas por ter aceitado a torcida e o time mascarados remoerem tanto a ausência de Neymar. Para ele, o momento era de apoiar o substituto Bernard, e não o astro lesionado.


“Se a contusão e o quanto ruminamos o assunto até a bola rolar abalaram os jogadores, só eles sabem dizer”, esquivou-se PJ. “Nós, como torcedores, não estávamos lamentando. As máscaras eram uma tática de intimidação para assustar os alemães, o que obviamente não funcionou. É fácil dizer agora, tanto tempo depois, o que deveria ter sido feito. Mas, na hora da lesão do Neymar, lembro-me de não conseguir pensar em outra coisa. Primeiro, quando soube da notícia, foi uma sensação de ter sido largado à deriva. Como se tivessem me roubado carteira, documentos e celular e me deixado no meio do deserto. Estava tudo acabado. Depois, virou raiva do sujeito que agrediu o Neymar (raiva que nem era tão profunda porque nem me lembro do nome dele)”, acrescentou.


O que se tornou inesquecível foi o 7 a 1, completando o seu primeiro aniversário nesta quarta-feira. “Será, sem dúvida, um desses dias que usaremos como exemplo do que não podemos deixar acontecer. Vai servir para muita coisa: para quando estivermos confiantes demais, para quando o time depender demais de um jogador só, para quando tomarmos um gol e precisarmos recuperar a concentração...”, enumerou o torcedor PJ Pereira.


Já o publicitário PJ Pereira pensa diferente. O mesmo que se esqueceu do nome Juan Camilo Zúñiga não quer se lembrar do dia 8 de julho de 2014 com uma propaganda. “Não acredito que a publicidade usará um dia tão doloroso como esse. Não consigo imaginar uma situação em que isso possa ser utilizado. A coisa foi tão feia que nem para fazer piada serve”, decretou. Para fazer livro, contudo, serve. Afinal, o pesadelo eterno desmascarado por ele no Mineirão preencheria não somente um, mas pelo menos sete Livros da morte.

A Gazeta Esportiva lembrou a ação de PJ Pereira ao noticiar a maior catástrofe do futebol nacional
A Gazeta Esportiva lembrou a ação de PJ Pereira ao noticiar a maior catástrofe do futebol nacional - Credito: Reprodução

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