Mineirão testa venda de cerveja com estádio cheio e sob ameaça do MP - Gazeta Esportiva
Mineirão testa venda de cerveja com estádio cheio e sob ameaça do MP

Mineirão testa venda de cerveja com estádio cheio e sob ameaça do MP

Gazeta Esportiva

Por Juliana Arreguy e Theo Chacon, especial para GE.net

13/08/2015 às 11:01 • Atualizado: 13/08/2015 às 13:41

São Paulo, SP

Conhecida como a “Terra do Pão de Queijo”, Minas Gerais foi o mais recente Estado a permitir o consumo da cerveja, bebida de predileção do brasileiro, nos estádios de futebol. Sancionada há uma semana e ainda sob olhares de reprovação por parte do Ministério Público, a medida teve seu primeiro teste efetivo realizado no último domingo, no jogo entre Cruzeiro e Palmeiras, no Mineirão. Uma nova oportunidade de se fazer um balanço dos efeitos da lei acontecerá nesta quinta, no jogo entre Atlético-MG e Grêmio, que terá, no mínimo, o dobro de público com relação à primeira experiência

Com 40 mil ingressos vendidos antecipadamente, o jogo do Atlético-MG, que tem uma das melhores médias de público no campeonato, sempre com boa presença da torcida seja no Independência ou no Mineirão, será uma nova 'cobaia' para a comercialização da bebida e deve trazer um parecer mais concreto aos responsáveis com relação à questão organizacional. Ainda em fase de testes, a medida já teve seu primeiro protesto formal protocolado na última quarta junto à Procuradoria Geral da República.

Aprovada pelo governador Fernando Pimentel (PT-MG) na última semana, a lei prevê algumas restrições e ainda levanta questionamentos, sendo alvo de um requerimento por parte do Ministério Público de Minas Gerais. Mostrando-se contrários à determinação estadual, argumentado que a liberação do álcool pode incitar a violência, os promotores de Defesa do Consumidor objetivam levar ao STF uma representação para impedir a legitimação da medida.

Os sete anos de proibição fizeram com que uma nova logística precisasse ser pensada.Quarto Estado a liberar a bebida, após Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte, Minas não poderia ter palco melhor que o estádio reformado para receber a Copa do Mundo - evento no qual o consumo acontece sem maiores restrições - para a primeira experiência acontecer. Resta saber como a determinação será cumprida nas demais regiões do Estado, cujos dois times de maior expressão estão sediados na capital.

No último domingo, os 20.893 presentes no Gigante da Pampulha tiveram acesso às bebidas em um horário limitado. O serviço aconteceu desde a abertura dos portões, cerca de duas horas antes da partida, até o final do intervalo de jogo. Para evitar eventuais riscos, os torcedores foram recomendados a beber apenas nas imediações dos bares, sem poderem transitar com os copos.

A infração da regra - pelo consumo após o horário estipulado ou em setores da arquibancada -, se flagrada pela organização, acarretará, inclusive, em uma multa de R$ 1360,00 - cerca de 10% do valor que seria cobrado à fornecedora da bebida - a ser aplicada pelo poder público, já que a Minas Arena, por ser uma empresa privada, não pode multar o público em caso de violação da regra.

Apesar de o efetivo policial reiterar que nenhuma ocorrência surgiu em consequência do consumo de álcool, um dos bares do estádio foi parcialmente depredado por torcedores que, descontentes com a logística de venda, forçaram a porta para terem acesso ao estoque de cerveja no interior da loja. A situação foi contornada pela presença do Batalhão de Choque.

Em termos de fiscalização, a responsabilidade é dividida. Agentes de segurança privados supervisionam o consumo, enquanto a polícia arma uma retaguarda para intervir só em casos extremos que descambam para a violência. O Major Marcelo Pinheiro, um dos responsáveis pelo Batalhão de Choque da PM de Minas Gerais, relatou as impressões que teve nesta primeira experiência.

“Nesse jogo (Cruzeiro x Palmeiras), o primeiro após a liberação, não tivemos nenhuma ocorrência decorrente de embriaguez. Os casos que tivemos dentro do estádio foram normais, nada em decorrência do consumo de álcool”, contou. “A proibição da venda da bebida dentro do estádio não resolveu, porque do lado de fora também vende, aí o torcedor já entrava embriagado”, acrescentou em conversa com a Gazeta Esportiva.

Antes da sanção do projeto de lei, Copa do Mundo tinha sido a última experiência com cerveja em estádios (Foto: Washington Alves/Gazeta Press)
Antes da sanção, Copa  'tinha sido a última experiência com cerveja em estádios (Foto: Washington Alves/Gazeta Press)


Como a venda de cerveja aconteceu apenas em um jogo até então, o contrato com a fornecedora ainda não foi regulamentado em termos definitivos. Contra o Palmeiras, o valor da lata de Heineken foi R$ 6,50, o que não parece ter motivado o público a consumir em larga escala. “Percebemos que o maior consumo seguiu acontecendo fora do estádio, o preço é bem diferente dentro e fora”, falou o Major Pinheiro.

Responsável pelo Batalhão de Trânsito da PM de Minas Gerais, o Tenente Coronel Cássio Fernandes admitiu que não houve muitas alterações com relação à infraestrutura de deslocamento. “Quando era proibida a venda dentro as pessoas também bebiam do lado de fora. Isso, inclusive, retardava muito a entrada do torcedor. Faltando dez minutos para o início (do jogo) tinha oito, dez mil pessoas fora do estádio. Sempre fizemos a fiscalização, independente de ter a venda de bebidas dentro ou fora”, explicou.

Entre todas as providências logísticas, a questão da sustentabiidade também foi um aspecto pensado pela administração do estádio. Por meio de uma parceria com a Asmare, associação de catadores, a concessionária do Mineirão deu origem ao projeto “Gigante pela Natureza”, que faz coleta e reciclagem de todo material dispensado durante os jogos e que pode ser reaproveitado.

Uma das maiores preocupações com a segurança se aplica à combinação entre álcool e direção. No caso do Mineirão, no entanto, uma megaoperação de fiscalização já foi descartada. Como as principais vias de acesso ao estádio apresentam um grande fluxo de carros, o tenente afirmou que não tem o intuito de atravancar o trânsito na região. “Não fazemos uma grande operação na saída do estádio porque nosso objetivo é dar fluidez à massa. A gente tem feito abordagens em apenas alguns pontos”, disse.

A medida não exclui a presença de blitzes policiais montadas em outros locais na mesma região, que devem ser reforçadas para os dias de jogo. “Vamos intensificar as abordagens pontuais”, garantiu Cássio Fernandes, que reforça a recomendação para os torcedores optarem por caronas ou transporte público se desejarem beber em dias de jogos.

Ao realizar um balanço sobre o confronto entre Cruzeiro e Palmeiras, o tenente afirma não ter enfrentado grandes problemas de ordem pública, mas espera ter um teste mais rigoroso no próximo jogo, já nesta quinta-feira. “Ocorreu tudo dentro da normalidade, até porque foi um público de cerca de 20 mil torcedores nesse evento. Agora, na quinta-feira, teremos uma dimensão maior, com provavelmente 50 mil pessoas para a partida entre Atlético-MG e Grêmio”.

Ministério Público ainda tenta barrar a cerveja nos estádios

A proibição das cervejas nos estádios é algo que varia de Estado para Estado no Brasil. Pioneiro na decisão, São Paulo optou pelo veto após uma briga entre palmeirenses e são-paulinos na final do torneio de juniores, realizado em 1995. Na ocasião, a morte de um torcedor foi o estopim para a criação da lei estadual 9.470, que proíbe a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em praças esportivas - salvo exceções, como em camarotes localizados no interior das arenas.

Já em Minas Gerais, a comercialização foi interrompida em 2007, enquanto no ano de 2008 a CBF decidiu por estender a lei seca aos demais estados. A única exceção foi para as partidas da Copa das Confederações, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014, por exigência da própria Fifa. O retorno, ainda que temporário, levantou o questionamento sobre a necessidade de ausência da cerveja em contraponto com os índices de violência apresentados nas arenas.

Embora as autoridades não tenham chegado a um consenso sobre o assunto, na última semana o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, sancionou a lei, que já tinha sido votada na Assembleia Legislativa em meados de julho, permitindo a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol do Estado. Na última quarta-feira, no entanto, o procurador José Antônio Baeta de Melo Cançado, da Defesa do Consumidor, protocolou uma representação na Procuradoria Geral da República questionando a atitude de Pimentel.

O procurador alega que o veto deve ser considerado em um âmbito nacional, e não estadual, além de apelar para o artigo 13 do Estatuto do Torcedor, que prevê a entrada do torcedor munido de “bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência” como ilegal.

Com 40 mil ingressos vendidos, jogo do Galo exigirá maiores providências

Se o jogo do Cruzeiro serviu como evento-teste para a comercialização de bebidas alcoólicas, a partida do Atlético-MG colocará à prova as medidas de segurança do estádio, que contará com 519 profissionais contratados para o ocorrido. Procurada pela reportagem, a administração da Minas Arena admitiu que, contra o Palmeiras, a porta de um dos bares foi danificada após ações violentas ocasionadas pela revolta com a interrupção da venda ao fim do intervalo.

Para evitar problemas, o consórcio garante que mais de 40 estabelecimentos ficarão à disposição do torcedor nesta quinta, com 25 deles destinados à comercialização exclusiva de cervejas. A medida visa diminuir as filas e evitar que o torcedor que já adquiriu as fichas de compra não saia no prejuízo, embora a administração ainda não tenha divulgado se pretende ressarcir aqueles que não conseguirem pegar a cerveja até o início do segundo tempo.

Horário limite para consumo causou descontentamento e torcedores forçaram a porta do bar (Foto: Reprodução/Twitter)
Horário limite para consumo causou descontentamento e torcedores forçaram a porta do bar (Foto: Reprodução/Twitter)


 

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