Das glórias à crise - Gazeta Esportiva

02/15/2023 08:00:44
 

Por Vinícius Baldin – São Caetano do Sul,SP

Dia 31 de julho de 2022. Nesta data, há pouco mais de 20 anos, o estádio do Pacaembu, em São Paulo, ficou lotado, com cerca de 32 mil pagantes, para o jogo mais importante da história de um pequeno clube do ABC paulista. O São Caetano, então com 12 anos de vida, enfrentou o Olimpia, do Paraguai, no duelo derradeiro da final da Copa Libertadores. Mesmo com a vantagem de ter vencido por 1 a 0 na ida, no Paraguai, perdeu de virada por 2 a 1 no tempo normal e por 4 a 2 na disputa de pênaltis.

Foto: Arquivo/Conmebol

Mesmo para um clube modesto, que havia chegado ao topo de forma surpreendente, a decepção na época foi enorme, já que nos anos anteriores ficou no quase duas vezes no Campeonato Brasileiro (2000, para o Vasco, e 2001, para o Athletico-PR). O título continental não veio, mas o bom trabalho foi coroado em 2004 com a inédita conquista do Campeonato Paulista, sob o comando do técnico Muricy Ramalho.

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Em um salto no tempo, chegamos a fevereiro de 2023. Em um jogo contra o Velo Clube, de Rio Claro (SP), o São Caetano contou com 374 pagantes no estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul (SP), na vitória por 2 a 0, que deu um respiro ao time na luta para fugir do rebaixamento na Série A2 do Paulista, equivalente à segunda divisão estadual. De 2004 até os dias atuais, o clube passou por altos e baixos e agora busca soluções para voltar aos bons tempos.

Com dívidas trabalhistas, fiscais, judiciais e extrajudiciais, o departamento de futebol do São Caetano está tentando ser vendido através de um leilão. Duas tentativas, em dezembro do ano passado e em janeiro, foram frustradas por falta de interessados. O lance inicial, que foi de R$ 90 milhões nas duas vezes, caiu para R$ 60 milhões no terceiro pregão, que terminará às 13 horas (de Brasília) desta quinta-feira. A redução é mais uma esperança para que apareça alguém disposto a investir no clube.

Jogadores dos tempos áureos do São Caetano, Ademar e Anderson Lima destacam que é preciso planejamento para as coisas voltarem a funcionar no clube. “Situação atual é muito complicada porque o clube se encontra indo pra leilão. A gestão que vai assumir não sabe em que condições o clube poder estar. Fica complicado, né? Tem que ser criada uma diretoria forte e buscar objetivos. Com planejamento, tenho certeza que o Azulão vai voltar a ser grande”, disse o ex-atacante, vice-campeão nacional em 2000 e 2001.

Foto: Reprodução

 

“A gente fica triste pela situação do clube. É uma instituição que chegou onde chegou, né? Mas isso é falta de planejamento do clube. Infelizmente, acaba acarretando os probemas financeiros, principalmente dentro de campo”, ressaltou o ex-lateral direito, presente no elenco campeão paulista em 2004.

Da riqueza à crise financeira

Em seus anos de ouro, o São Caetano contava com o aporte financeiro de um dos empresários mais ricos do Brasil na época. Saul Klein, herdeiro da rede de lojas Casas Bahia, ajudou o clube até 2020, quando rompeu com a diretoria. Nos últimos anos da parceria, a crise financeira foi enorme ao ponto de a agremiação acumular mais de seis meses sem pagar salários para jogadores, fornecedores e funcionários. Até um W.O., pela recusa dos atletas de entrar em campo, e uma goleada por 9 a 0 aconteceram na Série D do Brasileiro de 2020.

Sem adotar o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o São Caetano partiu então para uma Sociedade Limitada Unipessoal (SLU) e o proprietário do departamento de futebol passou a ser o empresário Manoel Simião Sabino Neto. No entanto, para piorar as coisas para o clube, em maio do ano passado ele foi preso durante operação da Polícia Civil que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro e outros delitos no comércio popular de São Paulo, localizado na região do Brás.

Atualmente em prisão domiciliar, Sabino preferiu se afastar e passou o comando para uma empresa, a LGM, que controla a parte administrativa e esportiva do Azulão. O empresário quer retomar o trabalho no caso de resolução de suas pendências judiciais.

Foto: Divulgação/São Caetano

“O clube passou por dificuldades por conta da economia do país, menos investimentos em publicidade e problemas internos, mas desde o início de 2023 as coisas melhoraram e aos poucos o clube tem voltado a sua normalidade”, informou o São Caetano em declarações passsadas pela assessoria de imprensa.

Torcida sofre e pede mudanças

Em meio a todo esse imbróglio, quem sofre é o torcedor do São Caetano. Presente no jogo contra o Velo Clube, a reportagem da Gazeta Esportiva conversou com alguns deles e todos foram unânimes em criticar o lado político da confusão. Para eles, o distanciamento das autoridades da cidade de São Caetano do Sul com o futebol causou grande parte do declínio do time no cenário estadual e nacional.

“O casamento com as autoridades acabou. É isso que está atrapalhando o São Caetano”, afirmou Agostinho Folco, um senhor de 88 anos que é o fundador da torcida organizada Bengala Azul, muito conhecida nos tempos áureos do clube. Na entrada do estádio, pouco antes da partida contra o Velo Clube, fazia a sua parte incentivando os torcedores que chegavam ao local.

Sua reclamação da falta de ajuda das autoridades municipais, principalmente do atual prefeito José Auricchio Júnior, vem desde a morte de Luiz Tortorello, que comandou a cidade nos anos 1990 e começo dos 2000, em 2004. “Desde que o Tortorello morreu que está assim. Só piorando. Esse prefeito agora não quer saber do futebol. Para ele, tudo viraria praça”, disse Agostinho, falando dos campos de futebol da cidade, incluindo o Anacleto Campanella.

Cerca de duas horas antes do jogo contra o Velo Clube, a reportagem flagrou o pequeno, quase nenhum, movimento em torno do estádio. Um grupo de oito pessoas, por exemplo, empinava pipas com seus carretéis e nem se importaram com a chegada do ônibus da delegação do clube de Rio Claro.

Foto: Gazeta Press

Dos tempos em que o Anacleto Campanella lotava, principalmente em duelos contra um grande rival paulista, só mesmo lembranças. Empresário do ramo esportivo, Zé Loko tomava sua cervejinha sossegadamente no Du J. Drink´s, bar localizado a 50 metros da entrada do estádio. “Isso aqui ficava cheio bem antes das partidas. Mas tenho esperança de que as coisas vão melhorar”, contou.



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